Sobre o Luto

"Temos de aprender a viver o luto para não vivermos em luto."

O PROCESSO DE LUTO

Todos nós vivemos ao longo da nossa vida numerosas perdas, todas elas de natureza diferente. Ruturas afetivas, morte de entes queridos, abdicação de ideais a nível pessoal ou profissional, perda de capacidades físicas e/ou mentais ou até mesmo a perda da nossa vida como a conhecíamos, são alguns dos acontecimentos de vida que nos levam a vivenciar o luto que todas eles requerem. 

O que acontece é que, por vezes, o acumular de todas estas perdas consecutivas levam-nos a sentirmo-nos desarmados e sem capacidade de enfrentar o sofrimento que estas perdas provocam. Nestes casos tendemos a negar, de forma inconsciente, que algo de errado se passa, o que poderá ter consequências devastadoras num período de tempo mais alargado. Tornamo-nos ainda mais vulneráveis perante outras perdas que poderão ocorrer futuramente na nossa vida, quando podemos escolher procurar ajuda profissional de alguém que seja capaz de nos apoiar nesta experiência menos positiva.

O luto em si é um processo complexo, que depende de inúmeras variáveis e que nunca pode ser tratado da mesma forma. Isto porque nenhum luto é igual ao outro. Cada pessoa vivencia o luto de forma diferente dependo de inúmeros fatores, desde o meio em que está inserido e o próprio contexto da perda em si. Tudo pode influenciar o modo como enfrentamos os nossos lutos.

 

QUANDO É QUE O LUTO SE TORNA COMPLICADO?

Quando experienciamos uma perda significativa na nossa vida, de uma pessoa querida ou até mesmo um objeto estimado por nós, desencadeia-se um processo necessário e fundamental para que o vazio deixado se transforme num espaço inspirador do presente e do futuro. Este processo é denominado de luto e consiste numa adaptação à perda, envolvendo um conjunto de esforços para que tal aconteça.

Um luto dito saudável, como o próprio nome diz, é aquele que promove uma diminuição progressiva do sofrimento e, seis meses após a perda, não apresenta consequências que afetem a nossa integridade física e/ou psicológica. Pelo contrário, quando vivenciamos um luto complicado sentimos, além de todo sofrimento que este desencadeia, outras sensações muito intensas e que permanecem mais do que o tempo esperado e que poderão ser indicativas da presença de uma patologia mais complexa, entre eles: culpa, cansaço físico e emocional excessivo, apatia, raiva e não aceitação da realidade da perda. Existem instrumentos de avaliação que permitem fazer esta distinção, pode encontrar e preencher alguns deles aqui

Assim, segundo a breve definição de Worden, o luto patológico é a “intensificação do luto a um nível em que a pessoa se encontra destroçada, originando um comportamento não adaptativo face à perda, permanecendo interminavelmente numa única fase, impedindo a sua progressão com vista à finalização do processo de luto”. 

 

COMO LIDAR COM A PERDA?

A perda é perspetivada como um acontecimento de vida muito stressante, uma vez que requer mais ajustamentos do que outros eventos. Muitas pessoas experimentam dor física, bem como dor emocional e comportamental associadas à perda. Uma vez que a pessoa em luto tem que passar pela dor causada pela perda, de modo a trabalhar o sofrimento que sente, então tudo o que permitir ao enlutado evitar ou suprimir essa dor irá muito provavelmente prolongar o processo de luto.

Quando um determinado acontecimento gera stress, como é o caso do luto, são evocadas estratégias de coping, ou seja, estratégias que nos ajudam a lidar com a perda. Estas estratégias alteram a nossa atenção sobre a fonte de stress (por exemplo, distanciamo-nos ou aproximamamo-nos da situação que nos magoa), promovem a construção de significado para a situação (por exemplo, tentamos reavaliar as nossas memórias) ou conduzem a alteração de comportamentos (por exemplo, enfrentar a situação e procurar apoio social). 

 

Então qual a melhor forma para lidar com a perda?

O primeiro passo é sempre reconhecermos o que pensamos, sentimos (emocionalmente e fisicamente, sinais que o nosso corpo nos envia através de diferentes sensações físicas) e fazemos(comportamentos adotados) perante esta situação. 

Assim, partilhamos convosco alguns dos sintomas mais comuns de se experienciar no decurso de um processo de luto:

Sentimentos: tristeza, raiva, culpa, choque, ansiedade, solidão, fadiga, sensação de desamparo, alívio, apatia.

Sintomas Físicos: vazio no estômago, aperto no peito,nó na garganta, hipersensibilidade ao barulho, sensação de despersonalização (nada parecer real, incluindo o próprio) falta de fôlego, sensação de falta de ar
fraqueza muscular, 
falta de energia
e boca seca.

-Comportamentosdistúrbios do sono (insónias); alterações do apetite (normalmente existe redução, mas existem casos em que se verifica um aumento do apetite); 
comportamentos de distração ("andar aéreo"); isolamento social
; sonhos com a pessoa falecida; 
evitar lembranças da pessoa falecida; procurar e chamar pelo ente perdido;  suspirar recorrentemente;
alterações na agitaçãomotora (não conseguir estar quieto ou pelo contrário não lhe apetecer fazer nada); chorar
; visitar sítios ou transportar consigo objetos que lembrem a pessoa perdida; guardar objetos que pertenciam à pessoa falecida.

 

______________________________________________

" - Esta noite... Vê lá se percebes... Não venhas comigo.
- Vou! Vou! Não te quero abandonar!
- Mas há-de parecer que me dói muito... Há-de parecer que eu estou a morrer. Tem de ser assim. Não venhas ver uma coisa dessas que não vale a pena. (...)
- Vou! Vou! Não te quero abandonar! (...)
- Fizeste mal. Vais ter pena. Vai parecer que eu estou morto e não é verdade...
Eu continuava calado.
- Percebes?... É que é muito longe e eu não posso levar este corpo... É pesado demais..."

 

 

O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry